A mídia e seus interesses. Intervenções armadas dos EUA

 
     O texto “Contradições na cobertura jornalística americana no Iraque”. In: Política Externa, publicado por Carlos Eduardo Lins Silva livre-docente em Comunicação pela USP, diretor de relações institucionais da PATRI Relações Governamentais & Políticas Públicas, aborda sobre o papel e interferência das corporações midiáticas nos conflitos internacionais da atualidade.
    Carlos foi repórter, editor, secretário de Redação, diretor-adjunto de Redação e correspondente em Washington da Folha de S.Paulo. Autor de "Muito Além do Jardim Botânico" e "O Adiantado da Hora", entre outros livros, foi também diretor-adjunto de Redação do jornal Valor Econômico. Neste texto, ele faz uma análise sobre o papel dos meios de comunicação na legitimação ou não de conflitos e a criação de inimigos, e o quanto isto está conectado com interesses de corporações privadas 
       De acordo com Carlos, a mídia dos EUA, com raras exceções, passou a reproduzir de forma limitada as sucessivas denúncias de autoridades do governo federal Norte Americano. Este fato no entanto possui diversos grupos de interesse privado ligados que trazem razões ou não para a exposição de várias questões.
     Para legitimar os ataques do dia 11 de setembro e políticas de retaliação, vários documentos falsos foram expostos nos noticiários de importantes redes de comunicação alegando que países como o Afeganistão e o Iraque estavam produzindo de forma ilícita energia nuclear sem o aval da AIEA (Agéncia Internacional de Energia atomica) . Posteriormente a publicação destas notícias, a própria AIEA expôs um comunicado de que não havia criado nenhum documento ou estudo sobre este caso, desmentindo a publicação.
      No entanto, poucos jornais noticiaram esta questão o que mostra que mesmo falsa, uma reportagem alimenta a legitimidade de um ataque. A revista New Yorker foi a primeira a mostrar como era o sistema de extração e enriquecimento de urânio que envolvia relações intimas da Al-Qaeda com os Estados da Árabia-Saudita e o Afeganistão. A Arábia- Saudita até hoje possui fortes vínculos  com os EUA e além do mais naquele período a família Bin Laden tinha enormes vínculos com a família Bush principalmente em questões ligadas a negócios petrolíferos e afins entre os EUA e a Árabia-Saudita, contudo esta notícia não teve tanta repercussão.
       Esta questão passou a gerar dúvidas com relação a exposição dos fatos pela mídia que davam legitimidade aos ataques das tropas dos EUA.
      A revista Harper's foi a primeira a mostrar que a doutrina Bush não emergiu como respostas ao 11 de setembro, mas era uma antiga aspiração do grupo neoconservador para materializar a condição de poderio absoluto dos EUA pós Guerra Fria, os motivos eram claramente econômicos tendo a diplomacia naquele período tendo pouquíssima participação na tentativa de solucionar os problemas.
       O apoio verbal popular era de que havia necessidade de investigações junto da ONU para confirmar sobre a existência de bombas ou não no Afeganistão. Contudo houve um distanciamento dos jornalistas destes fatos. A realidade se tornou manufaturada.
      O Conselho de segurança da ONU não autorizou nenhum dos ataques dos EUA ao Afeganistão, Iraque ou os realizados posteriormente pelas tropas da OTAN nos países do norte da África, contudo, devido a exposição dos fatos pela mídia estes ataques ganharam legitimidade pela população dos EUA.
         Mesmo após Osama Bin Laden ter realizado os atentados, poucas pessoas dentro dos EUA sabem a sua real nacionalidade Saudita, de acordo com os dados de pesquisa expostos no texto, poucos cidadãos dos EUA sabiam que Osama é da mesma família Bin Laden, uma das famílias mais ricas da Árabia Saudita. Até hoje, muitos pensam que ele era Iraquiano.
          Osama durante a guerra fria foi treinado para atrapalhar as tropas da União Soviética que haviam tomado posse da região do Afeganistão, no entanto, após tomar a posse da região Osama junto com os demais membros do talibã se contrapos aos interesses dos EUA  e formou a Al-Qaeda que a partir de então passou a ser chamada de terrorista, mesmo que ironicamente tenha recebido o apoio do governo dos EUA. O processo de definição de Osama Bin Laden como um inimigo que precisava a qualquer custo ser capturado e dizimado é um tema conexo com a questão da mídia de guerra e seu papel para legitimação de ataques pelos EUA.

Retrospectiva: Guerra do Vietnã

    A guerra do Vietnã havia sido a primeira derrota dos EUA, várias reportagens mostravam as desgraças sofridas pelos Vietnamitas o que ajudou enormemente no repúdio da sociedade estadunidense com a economia de guerra que estava sendo praticada.
   
    Faltava interação entre as duas partes, entre a mídia e as forças armadas. A partir de então o governo passou a estudar como alterar essa proximidade dos jornalistas e dos militares.
     A maior empatia entre estas duas partes para ser concluída necessitava de que o perigo se tornasse mais presente dos jornalistas de forma que aumentasse a interdependência entre estes dois grupos. Essa maior interdependência certamente alteraria o quadro de criticas e emotização dos fatos.
    A guerra no entanto, com o aumento da proximidade entre essas duas partes se tornou um espetáculo que colaborou com a novelização dos fatos aumentando a audiência, venda dos noticiários e legitimação dos ataques. A união perfeita
    " A nova tecnologia não traz benefícios para a compreensão dos fatos, nem mesmo se esse é o objetivo  devido a muitas imagens, mas pouco detalhamento"
    Outro fato importante de ser ressaltado é a questão da terceirização as tropas. A terceirização das tropas altera a lógica de guerra. Antes para legitimar as ações de um estado em uma guerra era necessário um apoio popular para que os cidadãos fossem convocados e na busca de defenderem seus interesses pessoais e familiares fossem para a guerra, por mais que sempre na maioria das guerras interesses privados estivessem ligados com os motivos de incio dos conflitos.
    A terceirização das forças armadas altera essa lógica, a qualquer hora, caso seja inciado um conflito as forças terceirizadas estarão presentes para apoiar os interesses dos grupos privados sem a necessidade do completo apoio da sociedade.
     Essa mudança na lógica da participação das redes de informação nos noticiarios de guerra fez com que várias noticias fossem criadas no intuito de gerar um enorme alarde, mesmo que muitas delas fossem desmentidas posteriormente, mas com menor apoio.
    Famílias a partir da guerra do Afeganistão passaram a assinar canais especias para tentar ver os seus filhos em algum momento sintonizando 24h o cenário de guerra por canais (Efeito FOX).

Efeito FOX

    Vários funcionários contrário a política de mídia a partir de então adotada foram demitidos. Esta questão no entanto fez com que houvesse um crescimetno de redes extrangeiras com uma visão política diferente da patricada pelas grandes corporações dos EUA. Algumas destas mídias foram a Al-Jazira e TV5, contudo a audiencia dessas redes de comunicação ainda mantiveram-se menores que as demais.
    Alguns problemas que envolviam as tropas dos EUA apareceram apenas em redes externas dos EUA. Essa diferentes exposição dos fatos fazia com que fosse alterada a análise de quem era o mocinho e o vilão da história.
   No entanto, não podemos radicalizar que em todas as redes externas dos EUA a mesma política de mídia foi pratica adversa aos interesses de tropas dos EUA. Os Jornais do Brasil são uma prova disso.
Em parte excessão a Tv Cultura e o jornal da Folha de São paulo foram os únicos jornais que demostravam uma análise que apresentava diferentes visões do conteúdo das maiores corporações da televisão como a rede GLOBO de jornalismo a qual apresentava uma análise dos fatos semelhante a da FOX e canais dos EUA.

Pós Guerra:
    Mesmo após a sinalização do fim dos conflitos em 1o de maio, passaram a ocorrer um maior número de atentados, em média 1 por dia, sendo que antes eram de pequena intensidade. A mídia e o governo dos EUA sabem como proceder derante a guerra, mas não depois dela.
    Vários jornalistas passaram a retornar para os seus lares e a partir de então houve uma mudança nas políticas dos canais: Houve um aumento das criticas contra o governo, condescencia substituida pela agressividade.
     Este fato é condizente com a queda de aprovação das políticas de governo. A partir do momento que as criticas jornalisticas das maiores redes de informação passam a serem criticas, a situação tende a ser alterada.
    Ao ser declarado pelo próprio presidente que Saddam Hussein não tinha vínculos com a Al-Qaeda, o fato teve pouca repercussão e notícias, afinal aquele havia sido o pressuposto para o "show-business".
    Após a guerra mudanças foram feitas nas regras de mídia do Iraque: Ao meio dia, até então era noticiado nos canais de televisão o Alcorão, contudo, a partir de então passou a passar Friends no intuito de disseminar a cultura de vida dos EUA.

Conclusões:
    A cobertura dos canais de informação nem sempre passam a verdade, suas notícias estão submissas a interesses de grupos privados sendo um destes a indústria de armamentos, e ao modo que estas notícias podem trazer mais lucros ou não chamando a atenção dos telespectadores.
    Nos noticiários há uma distorção da realidade que tem como objetivo a manipulação das massas. Dentro desse processo de manipulação das massas está a deslegitimação de criticas universitárias, um cenário presente não apenas nos EUA, como nos demais continentes.
    Esse processo é uma problemática decorrente do controle das mídias por seletos canais de comunicação que apresentam um auto grau de partidarismo. A liberdade de expressão dos meios de comunicação na atualidade devido a centralidade, fusões e centralização de seus controles expões apenas os interesses e criticas de grupos específicos que tem controle sobre a critica das sociedades.

Fontes:
SILVA, Carlos Eduardo Lins. “Contradições na cobertura jornalística americana no Iraque”. In: Política Externa, vol. 12, no. 3, Dez- Fev. 2003/2004.
http://internacional.estadao.com.br/noticias/america-do-norte,a-vida-de-osama-bin-laden,713646



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