Gerenciando a interação doméstico-externa: China-EUA acordo da OMC
Jogo de dois níveis nas negociações entre EUA e China para a entrada Chinesa na OMC (organização mundial do comércio)
Desde 1986, a China na busca de melhorar os seus
relacionamentos com novos mercados, já tinha a vontade de fazer parte da
organização mundial de comércio. Vários países, devido a China não fazer parte
do órgão, utilizavam este fato como desculpa para não deixar com que produtos
chineses entrassem nos seus territórios.
Em 1986, a China tentou entrar para o Gatt, órgão anterior a
formação da OMC, mas foi rejeitada. Contudo, a China tem o costume de manter as
negociações para atender aos seus interesses, mesmo que para que esses
interesses sejam concluídos o processo demore.
Em 1994, após a transformação do GATT em OMC, a China
novamente fez a solicitação para a sua entrada no órgão. Contudo novamente foi
rejeitada por parte de seus membros. Para entrar na OMC é preciso que todos os
Estados partipantes estejam de acordo com a aceitação da inclusão de mais um membro.
Isso fez com que várias negociações se desdobrassem de 1994
à 1999 até os EUA aprovarem a entrada da China no órgão. Para que este processo
finalizasse, várias negociações foram realizadas, sendo importantes as três fazes
de 1999, que ocorreram nos meses de abril, maio e novembro.
A primeira coalizão Chinesa era pequena e homogênea,
arquitetada pelo Politburo (Grupo de líderes do partido Comunista Chinês).
Dentro desta coalização chinesa estavam o 1º ministro Zhu Romgje, o presidente
Jiang Zemin, o Politburo e o Ministro de comércio exterior e Cooperação
econômica.
Vários grupos de interesse Chineses foram excluídos da
coalizão chinesa: O congresso Chines, os ministérios da indústria, agricultura,
finanças, comunicação, trabalho e seguridade social e a Mídia que ficou exclusa
dos salões de negociação.
A mídia ficou de fora para evitar a politização de temas.
A 1ª faze de negociações (win set) ocorreu em abril de 1999
com a visita de Zhu para dialogar com o presidente Clinton.
O fato dessas negociações terem tido a participação direta
do presidente dos EUA deixava claro que a busca por uma solução era de grande importância
para o governo dos EUA.
O Win set nestas condições já se mostrava capaz de ter as
negociações facilitadas. Além disso, Zhu tinha proximidade com o presidente Clinton
devido os seus históricos de formação acadêmica.
Zhu ao ir para Washington apresentou três pontos os quais
deveriam de ser discutidos no Win-sets para que o país entrasse na OMC:
1)
A Abertura parcial da indústria de
telecomunicações, seguros e bancos da China para empresas dos EUA.
2)
A necessidade da eliminação de tarifas de
importação de cítricos, carne e trigo pelos EUA.
3)
Os EUA teriam de eliminar as cotas de importação
de ferro e produtos têxteis Chineses.
O Win-set Americano apresentava itens
iguais o 1 e o 2, já o terceiro item era considerado fora de questão para ser
discutido naquele momento. Além do mais naquele momento, o congresso americano
era de maioria republicana adversa a qualquer questão que envolvesse a China,
por considerar o país comunista e ter sido o principal aliado da União
Soviética, mesmo que naquele período não existisse mais.
Nestas condições, vendo as dificuldades
para a ratificação no congresso, Clintos decidiu no nível 1, realizar a saída involuntária das negociações, por mais
que ele quisesse efetivar o acordo.
Nestas condições, Zhu cedeu nas negociações
e propôs a abertura total de telecomunicações, seguros e bancos, além da
proposta de realizar uma renião expecial de negociações com os empresários dos
EUA.
No entanto, ainda assim, o acordo não foi
efetivado e Zhu teve de retornar para a China. Ao chegar, Zhu recebeu enormes
criticas tanto do partido Chines, como do Politburo, afinal ele havia se curvado
aos interesses dos EUA cedendo demais nas negociações.
2ª faze. Maio de 1999 – Interrupção das
negociações:
Em maio de 1999 ocorreu um bombardeio na
embaixada Chinesa na Iugoslávia por acidente das tropas dos EUA. Nestas condições,
Clinton ligou para Zemin, mas não obteve resposta, Zemin nem se mostrou
disposto a atender ao telefonema a fim de pressionar os EUA e atender aos
interesses que estavam em negociação.
Zemim, Chegou a publicar nos noticiários
internacionais o caso do bombardeio exigindo desculpas formas dos EUA e o
pagamento pela destruição da embaixada e relíquias guardadas que foram
destruídas (incluindo roupas culturais, estátuas, relíquias históricas e
documentos).
A reverberação chinesa foi positiva para o
país.
Por isso, a faze final de negociações
ocorreu em Pequim. Nos dias 10 e 15 de novembro de 1999.
Entre os líderes negociadores dos EUA estava
Charlene Bernafsky, uma mulher de reconhecida reputação em questões de
negociação de conflitos, primeiro pelo fato de ser mulher, e segundo pela sua
personalidade crítica.
Dia 10 houve o cerimonial de abertura.
Dia 11 os EUA tentaram inserir a clausula de
que a China seria aceita pelo governo dos EUA como membro da OMC, apenas se a
China entrasse no órgão como um país desenvolvido, não podendo adotar
algumas políticas de protecionismo que a
OMC permite que países subdesenvolvidos pratiquem.
Este ponto deixou os membros Chineses das
negociações bastante preoucupados, afinal a entrada na OMC, naquele formato,
não iria atender aos reais interesses do Politburo e muito menos dos
ministérios do governo que já não estavam satisfeitos com as negociações.
Dia 12 os EUA cederam na questão da
Clausula de que a China entraria como país desenvolvido, mas em troca exigiam
que houvesse uma maior flexibilização
nas negociações exigindo que a China cedesse mais na questõ de telecomunicações,
seguros e bancos exigindo liberação total para a entrada de empresas dos EUA.
Dia 13 Zhu tomou um café da manhã com a
delegação americana na busca de melhorar o entrosamento dos membros
negociantes, e se comprometeu em abrir o acordo de liberalização parcial de 49,
a 50% das empresas para investidores dos EUA.
Dia 14 os EUA para conseguir maior
flexibilização nas negociações exige outras questões acima do possível para
tentar maiores lucros nas atas de negociação, por mais que soubesse que algumas
seriam totalmente incabíveis, entre estas propostas estavam:
1)
Abertura total de telecomunicações e seguros.
2)
Abertura da China para a entrada de indústrias
de fertilizantes dos EUA, com várias cláusulas que favoreceriam as empresas dos
EUA.
3)
Cotas para a entrada produtos têxteis dos EUA na China até 2010 e não 2005, como antes já se
havia discutido.
Dia 15 a China propôs uma abertura de 49, 50 % para empresas
de telecomunicação, ou nada. Reforçando o comprometimento de que as decisões
tomadas naquele salão seriam efetivadas.
Os EUA concordaram com esse ponto, afinal Zu era quem estava
nas negociações do acordo o que aumentava a certeza do comprometimento dos
Chineses como acordo.
Na área de fertilizantes, a China não cedeu tanto, e esta
questão foi retirada do acordo final das negociações.
Por fim, neste último ponto a China cedeu, por mais que no
começo das negociações de mostrasse adversa a aceitação deste ponto.
A China entrou para a OMC, o que desencadeou enormes
mudanças nas negociações com outros países.
Este fato, deixa claro o porquê os EUA tendem a deixar os
temas mais importantes das negociações para o último dia, desta forma, os membros
participantes se sentem pressionados e tendem a liberar questões de interesse
do governo dos EUA nas negociações, mesmo que não tenha grande relação com o
tema abordado.
LAI, H. “Chapter 5 – Managing domestic-external interaction: China-US WTO agreement”. In: The domestic sources of China’s foreign policy. Londres/Nova York: Routledge, 2010, pp.90-111.
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