A Crise da Dívida e suas repercussões sobre a economia brasileira – Belluzzo e Almeida


Segundo Luiz Gonzaga Belluzzo e Júlio Sérgio Gomes de Almeida a ruptura das articulações financeiras do Brasil com o exterior na década de 1980 foi provocada pela crise da dívida externa, a mais grave crise econômica que a economia brasileira até então não havia presenciado que se estendeu por toda a década de 80 e tendo repercussões na década seguinte.
            O estreitamento dos relacionamentos do Brasil com o exterior ocorreu em conjunto com o crescimento dos mercados financeiros internacionais nos anos 70.
            Antes as fontes de financiamento externo eram mais limitados, as poucas agências que existiam eram apenas dos países mais avançados.
            Nos anos 70 houve um grande crescimento de bancos privados que como meio de segurança introduziam as taxas de juros flutuantes dentro das cláusulas de seus acordos de financiamento a fim de garantirem o próprio refinanciamento e obtenção de lucros. Isso dava base para emissão de créditos ágeis, baratos e em condições de prazo bastantes atrativos.
            Tanto o Brasil, como grande parte dos países Sul Americanos em desenvolvimento aderiram a estes pacotes de financiamento e crédito.
            O financiamento externo no final acabou preenchendo a lacuna da falta de bancos nacionais capazes de financiar grandes empreendimentos de longo prazo.
            As reformas do sistema fiscal, monetário e financeiro ocorridas entre 1965 e 1966 tinham como intuito a criação de um novo padrão de financiamento que atendesse as exigências tanto do sistema privado como público.
            A reforma fiscal criou novos impostos, possibilitou que a capacidade de endividamento do estado fosse recuperada, para garantir uma boa administração monetária foi criado o Banco Central, houve a constituição do conselho monetário nacional que seria chefiado pelo ministro da fazenda a fim de aumentar o controle das finanças pelo Estado e a segurança dos investidores. Ou seja, houve uma centralização e reorganização da economia nacional.
            Simultaneamente a reorganização do aparelho de financiamento da economia, foram adotadas medidas incentivar novos investimentos externos e a tomada de empréstimos no mercado internacional de crédito que estava em crescimento.
            A dívida pública até aquele momento era virtualmente inexistente, no entanto este cenário passou a ser alterado. Para extimular a entrada de financiamentos externos o governo criou várias leis e regras que faziam com que grande parte dos riscos do setor privado, caso houvesse problemas seria assumido pelo Estado reduzindo os riscos dos investidores.
            Mesmo assim, financiamentos para investimentos de longo prazo, principalmente de infra-estrutura se mantiveram escassos internamente sendo o BNDE o principal financiador mas ainda não o suficiente para dar conta de todos os empreendimentos e projetos Estatais.
            Por este motivo, a saída para as empresas estatais era a busca por financiamento extrangeiro, afinal as condições de prazo e juros naquele momento eram bastante atrativas, abundantes e baratas.
            Nestas condições as fontes externas até 1978 foram as principais condutoras do endividamento externo brasileiro.
            É interessante ressaltar que não eram apenas empresas estatais, e privadas ligadas a produção e ao comércio que usufruíram desse mercado de credito internacional, muitos bancos privados brasileiros assumiam empréstimos de longo prazo com os grandes bancos europeus e Norte Americanos e disponibilizavam crédito de curto e médio prazo no mercado interno.
            O sistema de crédito nacional, no entanto, não se desenvolveu de forma significativa.
            Após a ocorrência do primeiro choque do petróleo em 1973, o governo brasileiro decidiu realizar um reajuste no balanço e pagamentos, mas tentar manter as taxas de crescimento do PIB elevadas através de um projeto de substituição de importações especialmente nas áreas de bens de capital e insumos.
            O Governo Geisel (74-790 definiu como eixos de expansão da economia nacional os investimentos do setor público na crença de que estes iriam impulsionar os investimentos privados.
            O objetivo inicial era fazer com que houvesse uma alteração na dinâmica de nossa economia e evitar um aumento do endividamento externo nacional.
            O primeiro objetivo foi alcançado, já segundo não. Grande parte dos investimentos realizados no país, apesar de alterarem a estrutura produtiva aumentaram o endividamento com o exterior.
            Apesar de no início, ambos os setores empresariais, privado e estatal se endividarem em ritmos diferentes, a partir de meados da década de 1970, o setor privado ganhou maior peso nesta questão.
            No entanto, as condições de crédito, câmbio e juros, apesar de em primeiro instante parecerem favoráveis, deixaram de serem compatíveis com o equilíbrio da balança comercial e financiamento dos projetos do segundo PND.
            O segundo PND, mesmo com dificuldades para que seus incríveis objetivos de possibilitar com que o Brasil se tornasse um país de economia semelhante aos desenvolvidos, foi colocado em prática, contudo, nem todos os projetos traçados pelo plano seguiam os interesses e necessidades do país.
            As agriculturas estimuladas tinham como foco exportação, e não o atendimento das necessidades domésticas e de nutrição do país.

A ruptura do mercado de crédito voluntário e a “crise fiscal”

O segundo choque do petróleo, o salto da taxa de juros internacional em 1979 provocados pór mudanças nas diretrizes da política dos EUA, tornaram maiores as necessidades de captação de recursos. Contudo, conforme já explicado, as empresas estatais já estavam bastante endividadas e o setor privado tinha pouco ânimo para aumentar seu endividamento com o exterior, que com a crise do México se desestimulou mais ainda.
            Para tentar reestimular as exportações houve uma enorme desvalorização do cruzeiro (130% em relação ao dólar em 79), contudo, neste mesmo instante a inflação chegava a 100% a.a.
            Essa soma de acontecimentos desestimulou os agentes econômicos a emitirem créditos principalmente para a América Latina.
            Mesmo com todas as resoluções de salvaguarda (resoluções número 432 e 230) do Banco central que permitia aos tomadores de empréstimo diretos e bancários de recursos externos em caso de riscos terem seus problemas responsabilizados pelo Banco central pelos encargos financeiros, isso não foi o suficiente para dar seguridade para entrada de capital externo no país.
            Vendo o risco crescente de uma economia em crise  e com enorme desequilíbrio em suas contas externas, as empresas nacionais paralisaram seus investimentos e gastos, mesmo que necessários para o funcionamento estável de sua produtividade. Estas questões levaram o país nos anos seguintes a um cenário de enorme depressão econômica.
            Em conjunto com este cenário houve uma elevação da inflação dos preços, e aumento das taxas de juros.
             Nestas condições, o setor público que até então direcionava os empreendimentos deixou de se expandir limitando ainda mais as condições de retomada da economia atingindo diretamente a decisão de investimentos do setor privado
No final, o sistema de captação de recursos externos, incentivado pelo setor privado gerou uma enorme dívida pública. Essa estatização gerou a concentração de até 80% da dívida no setor público. Ou seja, houve uma “socialização” do endividamento privado.

Nos anos seguintes da crise, houve um superávit na balança comercial, mas que não era suficiente para equilibrar com o nível de endividamento externo.
Vários incentivos fiscais foram dados aos produtores nacionais neste momento para aumentar as exportações, além de uma políca cambial favorável.
Um dos meios adotados pelo governo para captação d erecursos e pagar suas ividas foi a emissão de títulos públicos e o endividamento externo, mesmo que as condições do mercado de capitais deixasse de ser atrativo.
O alto endividamento do setor público rapidamente se tornou em uma máquina de sucção de recursos do Estado, fenômeno decorrente da adoção das altas taxas de juros superiores as internacionais.


             

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