O Precariado
Guy Standing em sua obra O Precariado faz uma análise sobre as transformações no mundo do trabalho que vem ocorrendo nas últimas décadas afetando direta e indiretamente trabalhadores de diferentes nações do mundo todo. Ao ler este livro resolvi realizar um resumo do primeiro capítulo o qual acredito que trata sobre um tema que tem atormentado cada vez mais o dia a dia de toda a sociedade brasileira incluindo até alguns colegas próximos meus.
Na década de 1970, o modelo “Neoliberal” ganhou grande apoio político na crença de que o crescimento e o desenvolvimento das economias dependiam da competitividade dos mercados e que tudo deveria ser feito para que houvesse um aumento da concorrência e da competitividade dos mercados.
Um dos pontos defendidos na época para que ocorresse este processo era que os países deveriam de aumentar a sua flexibilidade de mercado de trabalho, um tema que trouxe grandes riscos e insegurança para as famílias.
Como resultado da nova agenda neoliberal, tem sido criado um “precariado global” que compõe milhões de pessoas ao redor do mundo.
O DESPERTAR DO PRECARIADO:
Nas últimas décadas 1990 – 2000 tem ganho cada vez mais com cada vez mais adeptos movimentações e formações de grupos pró reivindicações por mudanças no sistema de trabalho, mas de forma a qual não mostram desejo de reconquistarem o trabalhismo. No entanto, os adeptos das paradas como o “EuroMayDay” e dos eventos parceiros são a ponta do precariado.
Há um elemento muito maior vivendo no medo e insegurança. Eles estão flutuando à deriva e potencialmente furiosos capazes de se desviar politicamente para a extrema direita ou extrema esquerda e aprovar demagogias populistas que tiram proveito de seus medos e fobias.
O PRECARIADO DESPERTO:
Prato, uma cidade Italiana, antigamente era um pólo de produção têxtil extremamente importante e de longa tradição com cerca de 180.000 habitantes. Em 1989 cerca de 30 chineses trabalhadores começam a trabalhar em novas empresas.
Estas empresas passaram a importar cada vez mais trabalhadores chineses sem vistos de trabalho, o que aumentava ainda mais a exploração. Em 2008 haviam 4.200 firmas chinesas registradas na cidade e 45.000 trabalhadores chineses. Com esse aumento da concorrência as empresas Italianas foram forçadas a demitirem em massa. A medida que encolhiam, essas empresas provocaram a transição de cada vez mais trabalhadores do setor formal, para o informal e precário.
O Aumento das falências causou um aumento de indignações sem proporção. Como consequência grupos xenófobos passaram a ganhar apoio instituindo repressão na sociedade.
Os italianos perderam seus papéis proletários e foram abandonados para brigar por um emprego precário ou absolutamente inexistente. Assim, a parte migrante do precariado (Italianos) também foi exposta a retaliação das autoridades, embora fosse dependente de redes dúbias dentro do enclave de sua comunidade.
Prato reflete uma corrente adversa da globalização.
O FILHO DA GLOBALIZAÇÂO
No final dos anos 70 um grupo de pensadores sociais e econômicos denominados “neoliberais”, perceberam que suas opiniões passaram a serem ouvidas. Eles não gostavam do Estado e do aparato regulatório dos governos centralizadores. Viam o mundo cada vez mais aberto onde o investimento o emprego e a renda fluiriam para onde as condições fossem + receptivas.
Eles queriam medidas drásticas, e encontraram em políticos como Margareth Thatcher e Ronald Reagan o tipo de líderes dispostos a concordar com suas análises.
Ao longo dos 30 anos seguintes, a tragédia foi agravada pelo fato de que os partidos políticos socialdemocratas que construíram o sistema o qual os neoliberais queriam desmantelar, depois de contestarem o diagnóstico dos neoliberais, acabaram aceitando meio sem jeito tanto o diagnóstico quanto o prognóstico.
Uma reivindicação dos anos 80 foi a de que os países tinham de perseguir a “flexibilidade do mercado de trabalho “. Isso implicava em uma redução na segurança e na proteção do emprego. Flexibilidade do emprego significa ser capaz de mover continuamente funcionários dentro da empresa e modificar as estruturas de trabalho com oposição ou custos mínimos.
A flexibilidade defendida pelos neoclássicos significava tornar os funcionários inseguros, o que afirmavam ser necessário para a manutenção do investimento e dos empregos.
Com o avanço da globalização, governos e corporações se perseguiam mutuamente para tornar as suas relações trabalhistas mais flexíveis.
Com isso o número de pessoas com o regime de trabalho inseguro aumentou. Conforme aumentou o trabalho flexível aumentaram as desigualdades, ou seja um crescimento do precariado.
O trabalhador não fazia parte da classe trabalhadora ou do “precariado”: o trabalhador sugere uma sociedade composta por trabalhadores composto por serviços de longo prazo, empregos estáveis de horas ficas, com rotas de promoções estabelecidas, sujeitos a acordos de sindicalização.
O Precariado não é classe média, não possui um salário estável ou previsível ou o status e benefícios que as pessoas da classe média deveriam possuir.
DEFININDO O PRECARIADO:
Proletário + Precário = Precariado
Precariado é uma classe em formação.
O significado de classe segundo Max Weber se refere às relações sócias de produção e a posição do operário no processo de trabalho.
O precariado segundo o autor tem características de classe. Consiste em pessoas que tem relações de confiança mínima com o capital e o Estado, o que os torna completamente diferentes do assalariado, e ela não tem nenhuma das relações de contato social do proletariado, por meio da qual garantias de serviço são fornecidas em troca de subordinação e lealdade.
Uma característica do precariado é a falta de apoio da comunidade em momentos de necessidade, a falta de benefícios assegurados da empresa ou do Estado e a falta de benefícios privados para complementar ganhos com dinheiro.
CONCLUSÃO:
Segundo o autor, ele estima que um quarto da população adulta do mundo já faz parte do precariado. É uma posição a qual não traz nenhum senso de carreira, direitos aos benefícios do Estado e da empresa.
Esse é o resultado de um sistema que exalta e promove uma forma de vida baseada em competitividade, meritocracia e flexibilidade. A sociedade humana não se construiu ao longo dos séculos sobre uma mudança incessante e permanente. Ela foi baseada na lenta construção de identidades estáveis e esferas de segurança bem “rígidas”.
O resultado é uma crescente massa de pessoas em potencial, todos nós que estamos fora da elite, ancorada em sua riqueza e desapego da sociedade – em situações que só podem ser descritas como alienadas, ansiosas ou propensas a raiva. O sinal de advertência é o descompromisso político. O precariado não é uma classe organizada que busca ativamente seus interesses, em parte porque está em guerra consigo mesmo, e as tensões do precariado estão colocando as pessoas umas contra as outras impedindo-as de reconhecer que a estrutura social e econômica está produzindo seu conjunto comum de vulnerabilidades. Neste cenário, muitos serão atraídos por políticos populistas e mensagens neofascistas, um desenvolvimento que já é claramente visível na Europa, EUA e outros lugares.
É por isso que o precariado é uma classe perigosa e uma política do “paraíso” é necessária para responder aos seus medos inseguranças e aspirações.
Fonte: Guy Standing – O PRECARIADO
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