Fundos de pensão e fundos mútuos




Este texto de Catherine Sauviat trata sobre as transformações dos mercados financeiros dos EUA e seus efeitos perante os trabalhadores. Muitos acham que o mercado especulativo de títulos, ações é desconexo das transformações do mercado de trabalho, no entanto Sauviat nos mostra que a realidade é outra. 

A FINANÇA MUNDIALIZADA
Raízes sociais e políticas, configuração consequências.


OS FUNDOS DE PENSÃO E OS FUNDOS MÚTUOS:
Principais atores da finança mundializada e do novo poder acionário.
Catherine Sauviat


Neste texto Catherine Sauviat trata sobre os fundos de pensão e os fundos mútuos, os quais apesar de não representarem a totalidade dos investidores institucionais constituem os dois componentes mais dinâmicos. Os fundos de pensão e os fundos coletivos norte americanos (mutual-funds), nos últimos anos adquiriram força financeira centralizando a poupança coletiva e individual transformando-a em capital dinheiro concentrado, que se valoriza nos mercados. É importante analisar estes fundos por eles serem novos vetores da transformação das relações capital-trabalho segundo a autora.
Nos anos 80 e 90 o contexto era de aumento crescente das desigualdades de renda e Os fundos de pensão e os mutual-funds surgiram como os principais atores dos mercados financeiros ao longo deste período transformando a estrutura e o funcionamento dos mercados.

Os mutual funds e fundos de pensão tornaram-se os principais acionistas das empresas, mas também seus principais emprestadores. Tanto de empresas como dos Estados. Isso fez com que estes fundos passassem a realizar novas exigências, alterando em parte prioridades e a administração de empresas e dos Estados.
As políticas dos Estados foram cada vez mais contracionistas (desinflação competitiva, contenção das despesas públicas etc.)
Devido ao aumento de poder desses atores financeiros houve modificação nas prioridades das empresas. As empresas passaram a dar prioridade maior ao retorno aos acionistas do que aos trabalhadores

Essa nova situação também criou impactos diretos sobre as ações sindicais que já se apresentavam em declínio. Nos EUA, Canadá ou Reino Unido, como a autora cita, nestes países existia uma poupança capitalizada nas empresas (poupança-aposentadoria e poupança salarial) é importante e antiga, os sindicatos reivindicam cada vez mais os direitos de administrar a poupança acumulada nos fundos de pensão. Os sindicatos consideravam essas formas de poupança um salário em discordância e as utilizavam como uma arma para tentar ganhar força e consolidação sindical. Contudo esse engajamento, essa união, entre sindicais e acionistas é ambíguo.
Em vários países a partir dos anos 80-90 passaram a ser realizadas caixas de aposentadoria (fundos de pensão) separadas das contas dos empregadores, nas quais reservas financeiras passaram a ser acumuladas e valorizadas nos mercados financeiros. Essas reservas deveriam de ser utilizadas para o pagamento dos aposentados com recursos provenientes de contribuições e rendimentos financeiros obtidos.
Nos EUA esses fundos surgiram com o objetivo de melhorar o nível de pensão dos assalariados. Esses regimes, por meio de negociações dos sindicatos previam que o pagamento seria feito em função da idade, número de contribuições e do nível do salário recebendo contribuições quase que de origem patronal.
No final da década de 80 com a elevação da taxa de juros, o surgimento de um cenário de baixa inflação nos EUA e o desenvolvimento da Bolsa inflaram as contribuições acumuladas aplicadas nos mercados financeiros tanto em títulos de dívida pública, como em ações, tanto de investidores individuais, como de companhias e fundos. Com isso os regimes de capitalização transformaram-se transferindo dos empregadores aos assalariados o risco e o custo das aposentadorias criando dessa forma as estacas para o desenvolvimento de um segmento especializado na gestão dos ativos. Os Mutual Funds.

O montante das somas dos fundos de pensão se consolida nos anos 70 com a criação da lei ERISA. Essa lei, criada em 1974 obriga os fundos a formar reservas para seus compromissos em matéria de aposentadoria. A partir dos anos 80, no entanto, com a elevação das taxas de juros, o surgimento de um regime de baixa inflação e o desenvolvimento das Bolsas inflaram as contribuições e aplicações nos mercados financeiros. (primeiro em títulos públicos e depois em ações empresariais).
Os Fundos passaram a serem também utilizados para a compra e especulação de ações ao longo da década de 80, transferindo dos empregadores aos assalariados o risco e o custo das aposentadorias. Essa mudança fez com que os assalariados se tornassem mais frágeis com relação à instabilidade dos mercados, devido as suas contribuições (individuais) terem de suportar os riscos financeiros, e seu nível de pensão ser determinado pelo montante e resultados das s aplicações nos mercados financeiros.

Como consequência, houve uma diminuição da proporção de assalariados cobertos por regimes de previdência nos anos 80 e 90. (20% dos assalariados americanos em 2000 contra 43% em 1975).
Nos anos 2000, com a queda das torres Gêmeas e instabilidade dos mercados financeiros, várias empresas e fundos foram a falência colocando a vida de várias pessoas a beira da sorte e boa ajuda de colegas e parentes.
No entanto, é bom lembrar que os administradores de mutual funds, não tem a menor obrigação com seus clientes, os seus clientes individuais ou fundos depositam confiança nas agências suportando diretamente o risco de sua aplicação.
Em muitos países, os investidores institucionais tornaram-se os principais acionistas das empresas. Eles destronaram progressivamente as famílias da posição de proprietários dos títulos representativos dos principais ativos industriais assim, como substituíram em parte bancos como intermediários financeiros, por meio da sua conversão em títulos de divida.

A concentração das ações das empresas nas mãos dessas poderosas instituições financeiras oferecem maior liquidez conferindo a estas instituições o poder de reivindicar prerrogativas de acionistas para com os dirigentes das empresas exigindo maiores retornos sobre a aplicação de ações e títulos.
Os mutual funds (os fundos de pensão - sindicatos) também tiveram uma grande participação nesses ativos colocando-se como compradores de títulos que serviram para financiar operações como a compra de empresas, operações de fusão e aquisição. Assim contribuíram para a afirmação de uma concepção financeira das empresas.
Essa nova relação de forças fez com que os dirigentes das empresas tivessem de se adaptar e se conformar com as novas exigências de rentabilidade dos investidores institucionais apresentando políticas que trouxessem retornos positivos para os olhos dos analistas financeiros.

Neste cenário, vários dados falsos passados a serem apresentados por grandes empresas a fim de criar capacidade de sobrevalorizar os resultados financeiros enganando seus acionistas com o objetivo de maximizar seus lucros em curto prazo mediante a valorização da ação do grupo. Isso põe a mostra que a administração das empresas e o novo capitalismo acionário devem de agir de acordo com o interesse comum dos acionistas e se apresentar como modelo a ser seguido.

Esse novo contexto levou a segmentação crescente do mercado de trabalho e ao aumento das desigualdades, uma precarização do trabalho e mudança nas prioridades de distribuição de lucros das empresas. Houve um aumento das terceirizações e subcontratações, e um aumento das discrepâncias das remunerações entre os diferentes cargos das empresas. Uma anotação interessante anotada pela autora é o fato de que a diferença da remuneração média de um operário e um diretor geral de 1980 para 200 mais do que dobrou segundo dados da pesquisa anua da Business Week:

1980: diferença entre um salário de um operário e um diretor geral 1 para 41.
2000: diferença entre um salário de um operário e um diretor geral 1 para 531.

A ética foi abandonada e há uma recusa de transformação da sociedade, os próprios sindicatos antes defensores dos direitos dos trabalhadores, também fizeram parte da formação dessa transformação econômica que traz ganhos para alguns e maiores instabilidades para outros.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Capítulo 5 - Karl Marx - O Capital

Capítulo 4 - Karl Marx - O Capital

Graham T. Allison - Modelos Conceituais.